Em carta, 1.200 médicos de MG defendem volta às aulas presenciais
Escrito por Pedro Emanuel em 23/02/2021
Nas últimas semanas, a volta do ensino presencial nas escolas vem sendo discutida por professores, médicos e pais de alunos. Entre posicionamentos divergentes, as crianças, que estão há quase um ano sem ir até as escolas devido à pandemia do novo coronavírus, são a parte mais frágil da discussão.
Mesmo com a educação a distância, especialistas apontam que os pequenos estão sofrendo com problemas psicológicos. Um grupo de 1.200 mil médicos, entre eles infectologistas, pediatras e psiquiatras, escreveu uma carta direcionada à sociedade mineira defendendo a volta imediata às aulas.
No texto, o grupo esclarece que, ao estudar a retomada segura das atividades escolares presenciais em Belo Horizonte e no estado, os profissionais de saúde se basearam em ampla literatura médica de experiências de retomada e estudos científicos ao redor do mundo, desde março de 2020 até o presente momento.
Os médicos afirmam reconhecer como complexo o debate do retorno às salas de aula, mas ressaltam que a suspensão das atividades escolares presenciais foi medida “absolutamente excepecional e temporária, inicialmente adotada como necessária para o entendimento da doença e proteção coletiva”.
‘Decisão sem precedentes’
De acordo com a médica infectologista e mestra em saúde pública Luana Araújo, não existem precedentes para as escolas continuarem fechadas. “Os restaurantes estão abertos, o comércio está aberto. As pessoas estão na rua. Os setores econômicos estão todos abertos. A grande questão é: qual a rigidez desses protocolos de segurança? Com as escolas é possível fazer protocolos muito claros e flexíveis. Podemos realizar de forma segura e eficaz”, diz.
A médica explica que as crianças têm uma transmissibilidade muito pequena. Além disso, a chance de serem contaminadas e entrarem em estado grave ou assintomático é muito menor. Ou seja, ir até as escolas não faz delas vetores para a doença.
Ao ser questionada sobre os funcionários das escolas, que, com a retomada das aulas presenciais, poderiam se colocar em risco, a médica enfatiza que a maioria da população já voltou a ter uma vida “normal”.
Isso porque, cerca de 300 mil pessoas deixaram o trabalho remoto em julho de 2020, o que reduziu de 12,7% para 11,7% o percentual de brasileiros em home office. É o que aponta o estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) divulgado no ano passado.
A médica cardiologista pediátrica e Mestre pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carolina Capuruço ressalta que dentro de casa as crianças estão mais propícias a violência doméstica, abusos sexuais, além dos transtornos de ansiedade, depressão e das tentativas de suicídio.